terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Vou-me Embora pra Pasárgada




Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero 

Na cama que eu escolherei


Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconsequente

Que Joana a Louca da Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive


E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei num burro brabo

Subirei no Pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado 

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d'água

Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada


Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcalóide à vontade

Tem prostitutas bonitas

Pra a gente namorar


E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não tiver jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

- Lá sou amigo do rei -

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada.


Manuel Bandeira