domingo, 27 de abril de 2014

O Povo Brasileiro - Darcy Ribeiro













(Brasil, 2000, 10 documentários de cerca de 30 min - Direção: Iza Ferraz)

Baseado no livro de mesmo nome, e usando muitas das imagens gravadas por Darcy Ribeiro - uma das cabeças mais brilhantes do Mundo e que tanto lutou por um Brasil melhor - fez um grande estudo sobre a formação do povo brasileiro.

Esta série de 10 documentários, pode parecer que foge um pouco do objetivo social desse blog... mas não. Esse documentário é uma forma de ver a beleza dos principais povos que formaram a nação brasileira, e é um grande contraponto a muitas visões preconceituosas que ainda imperam no país, principalmente em relação ao índio e ao negro. Mostra também as raízes da desigualdade social que vivemos até hoje.

Livro na Estante Virtual

Link do canal Youtube com os 10 documentários divididos por tópicos.

 Torrent dos 10 capítulos + subtitulos en fr spa


sexta-feira, 11 de abril de 2014

Escute: Trummer Super Sub America

Fábio Trummer, do 'Eddie', se une a Diego Reis e Lucas Bori, do 'Vivendo do Ócio', para juntos criarem um dos melhores álbuns de rock brasileiro.



    Há tempos que Fábio Trummer tem a necessidade de dar vazão a sua veia mais roqueira – uma vez que o 'Eddie' sempre experimentou outros estilos, mesmo predominando a mistura de frevo com surf-music.

A ideia era se aproximar do universo punk-rock, que foi a partícula criadora de toda a carreira do próprio Trummer. Para isso, ele chamou dois novos colegas – e fãs do trabalho com o 'Eddie' – Dieguito Reis e Lucas Bori, bateirista e baixista do 'Vivendo do Ócio', respectivamente. Juntos criaram o 'Trummer Super Sub América' – nome inspirado em Eduardo Galeano, que categoriza a América do Sul como uma sub-américa.

O novo álbum, segue essa premissa com letras fortes e impactantes, com arranjos executados no formato de “power trio”. Em 'SAS', Trummer evoca uma ode à América do Sul, chancelando os heróis assassinados, as festas, geografias e até políticas etc. 'Medo da rua' parece oportuna neste momento de manifestações populares e repressões governamentais.

Quase como uma ópera punk-rock, o roteiro do álbum segue com 'Ardendo em chances', ressaltando as consequências relacionadas ao clamor do povo em descontentamento. 'Eu tenho fé' injeta um miligrama de esperança na situação atual – sentimento que não norteava a versão original de Rogerman, líder do 'Bonsucesso Samba Club', gravada em 2010 e 2012 (antes dos movimentos populares).

'Música Canibal' reflete uma autofagia da amada pátria, seguida à analogia entre o frevo e o blues, 'De Olinda ao Mississipi'. Em 'Descompasso' Trummer apresenta um riff poderoso ao serviço da letra pungente sobre a distorção da realidade. 'The end' ameaça a vida com pessimismo de proporções apocalípticas.

'Sindicato natural' critica as formas de associações enquanto 'Só faltou' encerra o petardo de forma otimista. Um dos melhores discos de rock do ano. Pode baixar sem erro. Vida longa ao 'Trummer SSA'.

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terça-feira, 8 de abril de 2014

"Antes que Eles Desapareçam"


Jimmy Nelson, um fotógrafo britânico, viajou pelo mundo e documentou o estilo de vida de 29 tribos indígenas – antes que estas, ameaçadas pela globalização e modernização, desapareçam para sempre.
O projecto “Before They Pass Away” consiste numa série de retractos de várias tribos – desde os Gaúchos da Argentina aos Chukchi no norte da Sibéria -, onde Nelson apresenta os elementos das tribos com “toda a sua fantástica etnicidade”. O resultado são retractos iconográficos que celebram a beleza destas culturas e as suas maneiras tradicionais de viver.
Para documentar os estilos de vida das várias tribos, este fotógrafo passou quatro anos nos locais mais remotos do planeta, vivendo duas semanas com cada tribo. Para fotografar, Nelson utilizou uma câmara analógica de placa com 50 anos. As placas (em vez do rolo), capturam as imagens e os ambientes com grande nitidez e claridade. 

Veja as fotos Aqui


Os índios isolados no Brasil 

 
Em risco de extinção devido a doenças e perda de terras
                                                 *
Nas profundezas da floresta amazônica no Brasil vivem tribos que não têm contato com o mundo exterior.
                                                  *  
Madeireiros ilegais e fazendeiros estão invadindo suas terras e trazendo doenças.

                                                    *
Eles não sobreviverão, a menos que isso pare.


Saiba mais em Survival International


 

 Fonte: http://greensavers.sapo.pt
            Povos Isolados no Brasil

domingo, 6 de abril de 2014

Manifesto da Poesia Pau-Brasil

                      140328-CanibalismoTheodore_de_Bry_1592
Há 90 anos, surgia documento que, ao questionar “discurso do colonizador”, abriria caminho para a Antropofagia. Eis o texto

Por Oswald de Andrade | Imagem: Theodore de Bry, Cena de Canibalismo 1592

[Primeiro texto de uma série sobre a obra de Oswald de Andrade e sua atualidade, a ser publicada até outubro, quando se completam 60 anos da morte do escritor e pensador. Saiba mais aqui]

A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos.


O Carnaval no Rio é o acontecimento religioso da raça. Pau-Brasil. Wagner submerge ante os cordões de Botafogo. Bárbaro e nosso. A formação étnica rica. Riqueza vegetal. O minério. A cozinha. O vatapá, o ouro e a dança.

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Toda a história bandeirante e a história comercial do Brasil. O lado doutor, o lado citações, o lado autores conhecidos. Comovente. Rui Barbosa: uma cartola na Senegâmbia. Tudo revertendo em riqueza. A riqueza dos bailes e das frases feitas. Negras de jockey. Odaliscas no Catumbi. Falar difícil.

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O lado doutor. Fatalidade do primeiro branco aportado e dominando politicamente as selvas selvagens. O bacharel. Não podemos deixar de ser doutos. Doutores. País de dores anônimas, de doutores anônimos. O Império foi assim. Eruditamos tudo. Esquecemos o gavião de penacho.


A nunca exportação de poesia. A poesia anda oculta nos cipós maliciosos da sabedoria. Nas lianas da saudade universitária.

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Mas houve um estouro nos aprendimentos. Os homens que sabiam tudo se deformaram como borrachas sopradas. Rebentaram.


A volta à especialização. Filósofos fazendo filosofia, críticos, critica, donas de casa tratando de cozinha.


A Poesia para os poetas. Alegria dos que não sabem e descobrem.

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Tinha havido a inversão de tudo, a invasão de tudo: o teatro de tese e a luta no palco entre morais e imorais. A tese deve ser decidida em guerra de sociólogos, de homens de lei, gordos e dourados como Corpus Juris.


Ágil o teatro, filho do saltimbanco. Agil e ilógico. Ágil o romance, nascido da invenção. Ágil a poesia.


A poesia Pau-Brasil. Ágil e cândida. Como uma criança.


Uma sugestão de Blaise Cendrars: – Tendes as locomotivas cheias, ides partir. Um negro gira a manivela do desvio rotativo em que estais. O menor descuido vos fará partir na direção oposta ao vosso destino.

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Contra o gabinetismo, a prática culta da vida. Engenheiros em vez de jurisconsultos, perdidos como chineses na genealogia das idéias.


A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos.

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Não há luta na terra de vocações acadêmicas. Há só fardas. Os futuristas e os outros.

Uma única luta – a luta pelo caminho. Dividamos: Poesia de importação. E a Poesia Pau-Brasil, de exportação.

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Houve um fenômeno de democratização estética nas cinco partes sábias do mundo. Instituíra-se o naturalismo. Copiar. Quadros de carneiros que não fosse lã mesmo não prestava. A interpretação no dicionário oral das Escolas de Belas Artes queria dizer reproduzir igualzinho… Veio a pirogravura. As meninas de todos os lares ficaram artistas. Apareceu a máquina fotográfica. E com todas as prerrogativas do cabelo grande, da caspa e da misteriosa genialidade de olho virado – o artista fotógrafo.


Na música, o piano invadiu as saletas nuas, de folhinha na parede. Todas as meninas ficaram pianistas. Surgiu o piano de manivela, o piano de patas. A pleyela. E a ironia eslava compôs para a pleyela. Stravinski.

A estatuária andou atrás. As procissões saíram novinhas das fábricas.

Só não se inventou uma máquina de fazer versos – já havia o poeta parnasiano.

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Ora, a revolução indicou apenas que a arte voltava para as elites. E as elites começaram desmanchando. Duas fases: 1ª) A deformação através do impressionismo, a fragmentação, o caos voluntário. De Cézanne e Malarmé, Rodin e Debussy até agora. 2ª) O lirismo, a apresentação no templo, os materiais, a inocência construtiva.


O Brasil profiteur. O Brasil doutor. E a coincidência da primeira construção brasileira no movimento de reconstrução geral. Poesia Pau-Brasil.

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Como a época é miraculosa, as leis nasceram do próprio rotamento dinâmico dos fatores destrutivos.

A síntese

O equilíbrio

O acabamento de carrosserie

A invenção

A surpresa

Uma nova perspectiva

Uma nova escala.

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Qualquer esforço natural nesse sentido será bom. Poesia Pau-Brasil

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O trabalho contra o detalhe naturalista – pela síntese; contra a morbidez romântica – pelo equilíbrio geômetra e pelo acabamento técnico; contra a cópia, pela invenção e pela surpresa.

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Uma nova perspectiva.


A outra, a de Paolo Uccello criou o naturalismo de apogeu. Era uma ilusão ótica. Os objetos distantes não diminuíam. Era uma lei de aparência. Ora, o momento é de reação à aparência. Reação à cópia. Substituir a perspectiva visual e naturalista por uma perspectiva de outra ordem: sentimental, intelectual, irônica, ingênua.

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Uma nova escala:


A outra, a de um mundo proporcionado e catalogado com letras nos livros, crianças nos colos. O reclame produzindo letras maiores que torres. E as novas formas da indústria, da viação, da aviação. Postes. Gasômetros Rails. Laboratórios e oficinas técnicas. Vozes e tics de fios e ondas e fulgurações. Estrelas familiarizadas com negativos fotográficos. O correspondente da surpresa física em arte.


A reação contra o assunto invasor, diverso da finalidade. A peça de tese era um arranjo monstruoso. O romance de idéias, uma mistura. O quadro histórico, uma aberração. A escultura eloquente, um pavor sem sentido.


Nossa época anuncia a volta ao sentido puro.


Um quadro são linhas e cores. A estatuária são volumes sob a luz.


A Poesia Pau-Brasil é uma sala de jantar domingueira, com passarinhos cantando na mata resumida das gaiolas, um sujeito magro compondo uma valsa para flauta e a Maricota lendo o jornal. No jornal anda todo o presente.

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Nenhuma fórmula para a contemporânea expressão do mundo. Ver com olhos livres

Temos a base dupla e presente – a floresta e a escola. A raça crédula e dualista e a geometria, a álgebra e a química logo depois da mamadeira e do chá de erva-doce. Um misto de “dorme nenê que o bicho vem pegá” e de equações.


Uma visão que bata nos cilindros dos moinhos, nas turbinas elétricas; nas usinas produtoras, nas questões cambiais, sem perder de vista o Museu Nacional. Pau-Brasil.

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Obuses de elevadores, cubos de arranha-céus e a sábia preguiça solar. A reza. O carnaval. A energia íntima. O sabiá. A hospitalidade um pouco sensual, amorosa. A saudade dos pajés e os campos de aviação militar. Pau-Brasil.

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O trabalho da geração futurista foi ciclópico. Acertar o relógio império da literatura nacional.


Realizada essa etapa, o problema é outro. Ser regional e puro em sua época.

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O estado de inocência substituindo o estado de graça que pode ser uma atitude do espírito.

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O contrapeso da originalidade nativa para inutilizar a adesão acadêmica.

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A reação contra todas as indigestões de sabedoria. O melhor de nossa tradição lírica. O melhor de nossa demonstração moderna.

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Apenas brasileiros de nossa época. O necessário de química, de mecânica, de economia e de balística. Tudo digerido. Sem meeting cultural. Práticos. Experimentais. Poetas. Sem reminiscências livrescas. Sem comparações de apoio. Sem pesquisa etimológica. Sem ontologia.
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Bárbaros, crédulos, pitorescos e meigos. Leitores de jornais. Pau-Brasil. A floresta e a escola. O Museu Nacional. A cozinha, o minério e a dança. A vegetação. Pau-Brasil.
                                                                                                    
                                                                                                        OSWALD DE ANDRAD

                                                                                       Correio da Manhã, 18 de março de 1924.

Fonte: outraspalavras.net